Produtividade e o lado positivo da vida que adoece

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Descubra porque a tentativa de estar ocupado o tempo todo pode causar frustrações, com a psicóloga Agda Mattoso.

O apelo de aproveitar o tempo e fazer algo útil para se sentir bem inundam a vida em tempos de pandemia mundial. Essas mensagens buscam influenciar o nosso humor, através da tentativa ingênua de superar as angústias da quarentena, por meio do pensamento positivo e de ocupar o tempo com atividades produtivas. Mas, isso pode ter efeito contrário em nossa saúde mental.

Muitas pessoas que estão com algum mal-estar, ao lerem essas dicas, para ficarem melhor, podem experimentar frustração e tristeza. Isso por que seguir as instruções de ser mais feliz e positivo para conquistar o bem-estar, rapidamente, é quase uma missão impossível. O que acontece é que, a positividade acaba por se tornar tóxica ao transmitir a mensagem de que só basta ter força de vontade e disposição para ver o lado bom das coisas, para transformar emoções negativas em algo positivo. 

Por exemplo, há várias dicas para fazer atividades úteis e produzir algo importante, nesses tempos de tantas incertezas e incômodos. Mas, ser produtivo nos ajuda nesse momento?

Essa pergunta pode parecer estranha. Se considerarmos que vivemos na era da tecnologia e da alta velocidade para produzir informações e produtos, o mais natural é pensar que o melhor modo de tocar a vida, ou a única alternativa, seja tornar-se produtivo superando as angústias ao produzir algo de útil e aproveitar bem o tempo. Porém, esse pensamento parte da ideia do utilitarismo e de direcionar energia para atividades, simplificando a complexidade da saúde mental ao relacionar bem-estar e uso do tempo para produzir. 

A produtividade e viver no automático

O problema não está em produzir, afinal todo produzir é um trazer e conduzir para diante, é um pro-ducere, que nos lança para o futuro através de ações passadas e presentes. “A questão a ser destacada é que ao viver de modo automatizado, priorizando o desempenho nas diversas áreas da vida, entra-se num padrão cíclico de pensar as relações humanas só pela ótica da produção, da utilidade e do sucesso. Ou seja, se não estou produzindo algo de útil, não me sinto bem. É como se tivesse algo errado em não ser produtivo o tempo todo do viver”, afirma a psicóloga.

Foto por: Pexels- Andrea Piacquadio

A maioria de nós relaciona produtividade com utilidade, considerando aceitável dedicar tempo para realizar algo que tenha um uso para alguém. Porém, ao notar que os dias estão passando e vários “nadas aconteceram” sentimos que a existência está sendo desperdiçada. Mas, será que é possível aproveitar de modo útil e produtivo cada momento da vida? Especialmente, na pandemia que temos mais tempo do que achávamos que tínhamos antes?

Ser uma pessoa produtiva tornou-se sinônimo de sucesso e não importa o seu momento emocional, você deve secar a lágrimas e se superar, sem perder muito tempo com a sua dor. Lidar assim com as situações da vida pode ser um tipo de violência. 

“No entanto, é possível seguir um outro caminho o de observar as próprias dores e angústias para se conhecer cada vez melhor. Assim é possível seguir adiante mais fortalecido, pois isso é cuidar de si. Ao observar atentamente o que nos causa dor e compreendermos nosso estado emocional, sem nos julgarmos como fracassados ou incompetentes, acolhemos nossas dificuldades, nos tornamos menos críticos e mais tolerantes para lidar com o sofrimento e isso promove bem-estar”, aconselha Agda.

Em tempos de isolamento social temos que enfrentar nossas dores, agora num mundo com velocidade reduzida. A mudança na percepção da passagem do tempo tem incomodado bastante. Muitos interpretam esse momento como perda de tempo que deve ser compensado com aumento ainda maior da produtividade, produzir mais ainda com o tempo que não se usa em eventos sociais ou deslocamento de casa para o trabalho. Outros, defendem que o momento é propício para desacelerar e reaprender a lidar com a vida e o tempo de outro modo.

A velocidade do mundo produtivo

Porém, diante da velocidade que o mundo nos dita, para produzirmos e consumirmos as novidades, destinamos pouquíssimo tempo para contemplar e refletir sobre o modo como estamos vivendo nossas vidas. Mas, na quarentena com mais tempo livre, buscamos ocupar cada hora do dia fazendo algo para evitar a reflexão. 

Olhar para si e para as situações que estão acontecendo é difícil mesmo, contudo a tentativa de se manter ocupado o tempo todo pode causar uma pressão muito grande e frustração, quando se percebe que não é possível ser produtivo e fazer algo útil todos os dias.

Caso, você esteja com dificuldades para lidar com seu estado emocional, procure um profissional, atualmente muitos psicólogos atendem virtualmente. Você pode agendar um horário on-line com a psicóloga Agda Mattoso no site da Terapia Clínica SP ou fazer contato direto pelo Whatsapp.

Referências bibliográficas: 

Arendt, H. Sobre a violência. Civilização Brasileira; Edição: 8 (20 de abril de 2009) 

Byung-Chul Han. A sociedade do cansaço. São Paulo. Vozes, 2015.

Duarte, A. M. “Heidegger e a técnica”. São Paulo. Filósofos na sala de aula Vol. 3 (2009)

Texto escrito por: Agda Mattoso

Editado por: Maria Beatriz Santos

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