Descubra porque estas emoções estão vindo mais à tona nesse período, com a psicóloga Agda Mattoso.
O isolamento social é um momento que nos coloca em contato com uma vida bem diferente da que levávamos. Tem sido um experimento social e psicológico que evidencia quem somos, o que valorizamos e como nos comportamos diante do inesperado e da falta de controle. Nesse contexto, o tédio e a angústia estão vindo mais à tona e incomodando um número maior de pessoas.
Tédio e Angústia
O tédio se relaciona com a percepção de que o tempo está demorando mais para passar e também com a dificuldade de ficarmos conosco, de sermos uma companhia interessante para nós mesmos nessa “passagem mais lenta do tempo”. Com o isolamento são menores as chances de escapar de si.
Outro aspecto de ficar isolado em casa e que pode contribuir para o tédio é que nela nos é negada a possibilidade de fazermos coisas que gostamos. Por exemplo: sair pelas ruas, buscar atividades de nosso interesse, encontrar pessoas, com as quais poderíamos nos entreter e que nos ajudariam a não olhar tanto para a própria vida o tempo todo.
A questão do tédio resulta do fato de nos tornarmos desinteressantes para nós mesmos. Para que possamos ser interessantes temos que SER, ou seja, nos tornarmos interessantes primeiro para nós. Essa é uma lógica inversa do que vivenciamos nas redes sociais, quando queremos nos tornar interessantes primeiro para os demais.
Mas, a situação de isolamento pode ser uma oportunidade para experimentarmos outros modos de viver, inclusive para cada um se tornar uma companhia mais interessante para si. O ficar em casa está exigindo a revisão dos nossos hábitos de relacionamento e de saúde mental, pode ser um momento mais propício para cultivar o autoconhecimento, refletir que companhia estou sendo para mim.
Já a angústia, mesmo fazendo parte da vida humana, tem se intensificado para muita gente porque ela expressa a exposição àquilo que não dominamos nem controlamos, exatamente o que estamos vivendo agora. A angústia é a expressão de encontrar-se numa situação que é estranha, desconfortável e até mesmo hostil.
Se o mundo que conhecíamos já não existe mais e o que vem pela frente ainda é desconhecido, isso traz muita inquietação, desassossego e nos angustia. Mas, lembremos que não saber o rumo do que virá, não significa que temos que aceitar tudo e que não há mais nada a fazer. Por mais que não consigamos controlar totalmente as situações, algum nível de controle temos sobre nossas vidas, o que fazemos para enfrentar os momentos difíceis é um exemplo.

O que podemos aprender com o isolamento
O que estamos vivendo na quarentena só evidencia os sofrimentos e dificuldades mentais e sociais que já enfrentávamos. Estamos numa sociedade entediada, angustiada, que vive em alta velocidade há décadas. O isolamento social só desmascarou tudo isso trazendo à tona sofrimentos que, muitas vezes, nem eram notados por estarmos sempre tão ocupados.
“Com isso, uma das lições que podemos tirar da quarentena é desacelerar e estar plenamente no presente, prestando atenção ao que você está fazendo nesse exato minuto. Por exemplo, agora que você está lendo esse texto, perceba quais são as sensações e postural corporal, direcione sua atenção para cada parte do texto e note como está sua respiração a cada instante”, aconselha Agda.
A velocidade com que fazemos as coisas na busca de ter mais tempo para fazer outras atividades desgasta e cansa. Como diz o filósofo Byung-Chul Han os perigos atuais se espreitam no “(…) excesso de positividade, que se expressa como excesso de rendimento, excesso de produção e excesso de comunicação”. Segundo ele em nossa sociedade reprimimos os cuidados de outros e de si mesmo, o que abre espaço à depressão, a exploração e à auto-exploração. Ou seja, de acordo com o filósofo a sociedade do rendimento guerreia sobretudo contra si mesma.
Se estamos numa era de excessos e durante o isolamento esbarramos com vários limites, como do ir e vir e da restrição de fazer o que gostamos, nos deparamos com a falta do que nos é interessante e isso nos frustra.
“Podemos ter mais uma lição: a chance de encarar a frustração e a limitação, que são opostas ao excesso em que vivíamos. Talvez, depois de passarmos pelos desafios do isolamento, desenvolveremos outra relação com o tempo, que seja menos veloz e, poderemos cultivar mais as relações com os outros e consigo e nos tornando uma companhia mais interessante para nós mesmos”, indica a psicóloga.
Considerando que na relação com o outro é possível se conhecer cada vez mais e, que nas trocas com as pessoas há a chance de aprender e de refletir sob uma ideia ou ponto de vista diferente do que se tem. Por meio da conexão, mesmo que virtual, podemos nos apoiar e descobrir outros modos de enfrentar esse momento. E também ter um espaço de reflexão para compreendermos mais sobre nós e os outros.
Pois, cada pessoa tem diferentes modos de encarar as situações e isso pode diminuir a angústia diante de tempos de desafios. Além disso, a conexão com as pessoas ajuda a dar sentido, significado ao tempo e com isso o tédio pode diminuir.
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Texto escrito por: Agda Mattoso
Editado por: Maria Beatriz Santos
Referências bibliográficas:
Byung-Chul Han. O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã. Disponível em <https://brasil.elpais.com/ideas/2020-03-22/o-coronavirus-de-hoje-e-o-mundo-de-amanha-segundo-o-filosofo-byung-chul-han.html
FRANCO DE SA, Alexandre. Entre a angústia e a dor: um diálogo entre Martin Heidegger e Ernst Jünger. Entre a angústia e a dor: um diálogo entre Martin Heidegger e Ernst Jünger., São Paulo , v. 18, n. 1, p. 144-156, 2016 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302016000100008&lng=pt&nrm=iso>
LARS SVENDSEN. Filosofia do tédio. Ed Zahar